sábado, 26 de julho de 2008

06 - CIDADANIA

O BEATO JOSÉ LOURENÇO Por: Agnaldo Juca


O Jornal do Cariri, edição 2326, ano XI de 20 de maio de 2008, trouxe uma reportagem histórica, que reúne abuso de poder, intolerância e crueldade. O visionário injustiçado do Cariri o Beato José Lourenço, um homem que tentou mudar a realidade de muitos sertanejos que viviam na miséria e morriam de fome nas mãos dos poderosos coronéis. Relato aqui alguns trechos da reportagem.
Por volta de 1895 com a ajuda do padre Cícero o Beato conseguiu arrendar um sítio chamado Baixa D’Antas, próxim0 ao Crato. A idéia do padre Cícero era encaminhar para lá, os trabalhadores que chegavam à Juazeiro sem emprego na lavoura. Apesar de ser um terreno considerado improdutivo, em pouco tempo graças ao trabalho coletivo, o sítio transformou-se em um pomar cheio de laranjeiras, mangueiras, coqueiros, bananeiras e muitas outras fruteiras, além do plantio de café, hortaliças e um bem cuidado plantio de algodão. Mas o seu trabalho coletivo começou a importunar os fazendeiros, pois os agricultores fugiam de suas fazendas para viverem juntos ao Beato onde encontravam uma melhor qualidade de vida.
Com o apoio das Forças Estaduais e Federais todo o sítio foi destruído e o Beato preso. Ao ser solto o padre Cícero autorizou novamente o assentamento em um sítio de sua propriedade próximo ao Crato conhecido como “O Caldeirão”.
Novamente o Beato implantou sua filosofia de vida, de idéias comunistas, devida em comunidade, filosofia pregada até por Jesus Cristo.
O Caldeirão se tornou auto-suficiente em alimentos, utensílios domésticos como, panelas, copos, baldes, até mesmo roupas.
Sua grandiosidade junto aos pobres importunava muito os poderosos da época, que usaram do se prestígio junto ao Governo Federal e conseguiram o apóio para o bombardeio do Caldeirão com o uso de aviões. Talvez seja a única área no Ceará que tenha sofrido bombardeio aéreo. Centenas de pessoas morreram, entre elas mulheres e crianças. O Beato. O Beato conseguiu sobreviver se escondendo na Chapada do Araripe, e posteriormente fugindo para Exu, onde por lá viveu até sua morte, em 12 de fevereiro de 1946, vítima da peste bubônica”doença provocada por ratos”. Na sua morte a humilhação final. Seu corpo foi trazido de Exu até Juazeiro do Norte pelos seus seguidores, em percurso de 70 KM a pé, para vela-lo e rezar a missa na terras que ele tanto amava. O vigário da época, Mos. Joviniano Barreto disse que não celebraria missa para bandido, e mais, proibiu a entrada do corpo na capela. Os seguidores então sepultaram o corpo do Beato no Cemitério do Socorro.
Assim, o Beato, como tantas outras figuras históricas que desafiaram os poderosos em busca de uma vida digna para todos, teve seu trabalho interrompido, porém, apesar da discriminação sofrida até o último momento, o mito do Beato Zé Lourenço sobreviveu a tudo e hoje se mantém como referência de resistência e defensor dos mais simples sonhos do nordestino: fazer brotar paz e fartura do solo árido do sertão.
(Agnaldo Vicente Juca da Silva é diretor da E.E.I.E.F José Bizerra de Britto, em Ponta da Serra)

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